quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Prioridades invertidas

A acreditar nas notícias da TSF desta manhã, os bispos, com a sua forma cautelosa de se exprimirem, terão, através do seu porta-voz, aconselhado indirectamente os seus fieis a negarem o respectivo voto ao P.S. nas próximas eleições. Isto se este partido incluir no seu programa a proposta destinada a instituir o casamento entre pessoas do mesmo sexo (por aí disparatadamente qualificado como casamento homossexual ou, pior ainda, casamento gay).
Compreendo o apelo, considero-o legítimo e até acho que lhes assiste razão na questão de fundo - o casamento de pessoas do mesmo sexo é antropológica e socialmente errado e indesejável, para além de ser juridicamente inconsequente.
Desconfio, porém, do sentido de oportunidade da Conferência Episcopal Portuguesa. Porque vieram agora os Senhores Bispos fazer política, quando antes nunca a fizeram?
Suponho que aos olhos da própria Igreja e dos seus bispos, o casamento entre homossexuais do mesmo sexo* não é tão grave como a morte voluntária infligida a um outro ser humano... Aos olhos de boa parte dos seus fieis não o é, certamente.
Ora, quando o mesmo PS promoveu e concretizou a total liberalização do aborto nas primeiras semanas de vida/gravidez, os bispos guardaram uma prudente reserva, deixando aos leigos as despesas da contestação e do debate.
Noutras ocasiões fizeram sempre questão de manter uma olímpica distância em relação às opções de voto dos seus fieis, mesmo reafirmando claramente as suas posições. O que é que mudou agora?
É certo que o Governo e o partido de Sócrates têm feito uso da chamada «agenda fracturante» para distrair amigos e adversários das questões complicadas. É certo, também, que a Igreja tem vindo a ser eleita como adversário útil e a sofrer, à custa dessa «agenda», grandes rombos em questões fundamentais, não digo da sua doutrina, ou fé, mas da sua moral.
Porém, ainda assim, onde querem os bispos chegar com um tal conselho?
Estarão a fazer um aviso à navegação? Parece-me já excessivamente tardio.
Estarão, finalmente, a pensar medir forças? Mas como, se presentemente não parece existir alternativa política, com hipóteses de sucesso, a um novo governo do P.S.? E porquê suscitar a questão agora, num momento em que o Freeportgate continua a ser discutido? Sócrates só terá a agradecer esta intervenção dos bispos, para, uma vez mais imitando o seu hermano espanhol, se vitimizar, distraindo-nos, a todos, uma vez mais, do essencial.
Não é habitual os bispos darem passos em falso. Sucede que não estou a ver as suas razões, em termos de oportunidade.
Ou será que sabem algo que nós desconhecemos?

*É evidente que os homossexuais se podem casar. Podem, inclusivamente, casar-se entre si. A putativa falta de igualdade é uma falsa questão.

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