quarta-feira, 28 de maio de 2008

«Grandes Questões, Terríveis Questões»

Usando da sua inultrapassável ironia, JMEQ apoucava assim, através do Conselheiro Gama Torres*, a vacuidade inchada de gravitas de algum discurso político.

Nesse tipo de terríveis questões (quem apoia quem, quem votou em quem, quem é ou não é populista, redução ou manutenção do ISP) se deixam enredar, voluntária ou involuntariamente, os candidatos à liderança do PSD (como outros, de outros partidos, noutras alturas).

Mas é do próprio PSD, a norte*, que surgem uma série de questões, de (90) verdadeiras grandes questões (sobre «PAÍS, SOCIEDADE, COSTUMES, PESSOAS»; «ECONOMIA, FISCALIDADE, EUROPA»; «POLÍTICA SOCIAL»; «ESTADO, SISTEMA POLÍTICO»; «PARTIDO») propostas à consideração dos candidatos.

É certo que várias delas estão formuladas numa perspectiva tendenciosa, parcial e mesmo maniqueísta. Mas compreende-se, os autores têm as suas próprias ideias e são partes interessadas. Não lhes retira o interesse.

Parece certo, também, que muitas das respostas apontam para desideratos por ora manifestamente inalcançáveis e que algumas das políticas que os tentassem concretizar rapidamente, poderiam tonar-se prejudiciais ou contraproducentes. Ainda assim, as questões formuladas constituem uma boa base de reflexão, perceptível pela generalidade dos cidadãos. Seriam um excelente ponto de partida para discussões a sério, acerca do futuro que queremos e dos caminhos para o alcançar. Ilustrativas e certamente mais úteis do que as que têm dominado o debate nos mass media.

Aliás, gostaria de as ver colocadas pelos jornalistas e respondidas pelos candidatos de todos os partidos. Já nem tanto pelas respostas em si, mas pela reflexão a que obrigariam, pois ajudariam esses candidatos a pensar que há mais mundo para além daquele a que um de nós e deles está confinado e que as responsabilidades de governo da res publica são maiores e mais vastas do que a generalidade deles supõem.

Isto porque estou em crer que poucos candidatos em todos os partidos estão em condições de responder sincera, fundamentada, informadamente, em consciência e pela sua própria cabeça a todas as questões formuladas. Eu não estaria (mas na primeira oportunidade, tentarei responder-lhes, com a liberdade de não ser candidato a nada nem estar alinhado com nada).

Pedro Cruz

* P.S. - Personagem do Conde de Abranhos, leitura política recomendável e sempre actual.
- Tem sido um lugar comum que o Porto perdeu relevância (económica, industrial, social, industrial e intelectual) nos últimos anos (não falo, naturalmente, dessa outra vacuidade que são os sucessos desportivos de um clube numa modalidade de entretenimento de massas). Pelo menos, os indicadores estatísticos parecem confirmar a tese.
Há, porém, sinais seguros de que poderá vir do norte a revitalização de um país sem ele.
Mesmo deixando de lado a polémica mas seguramente distinta e inovadora política do já sebastianicamente desejado Rui Rio, nasceram no Porto alguns sinais de esperança para o país:
Em primeiro lugar, destaca-se o exercício, por muitos, de uma cidadania inteligente, madura, inconformada, através da participação activa em variadíssimos blogues. Injusto, destaco apenas, por todos, o Blasfémias e o funes, el memorioso.
Depois, vêm do Porto e aparentemente aí permanecem, aqueles que a meu ver são os dois mais promissores políticos actuais: Os Drs. Paulo Rangel (PSD) e Diogo Feio (CDS). Têm, cada um a seu modo, revelado um pensamento próprio, consistente e fundamentado, relativamente imune a demagogias e a conveniências de ocasião. Assim continuem.
Por último, aqui, mas não exclusivamente, o bispo do (emprestado ao) Porto, D. Manuel Clemente, que vale a pena ouvir/ler e cujo magistério valerá a pena acompanhar.

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