domingo, 16 de março de 2008

Domingo de Ramos

Ontem, Sábado, dia 15 de Março do Ano da Graça de 2008, decorreu em Lisboa, na FDL, a prova de Processo Civil para a conclusão da 1 fase de estágio dos Licenciados em Direito candidatos à advocacia inscritos na àrea de Lisboa (2º curso de estágio de 2007).

Apresentaram-se para prestar a prova centenas de pessoas.
Estiveram presentes, para além dos funcionários do CDL-OA que, com eficiência e sem falhas, mais uma vez organizaram e vigiaram o decorrer da prova, os respectivos formadores (7), para esclarecer qualquer dúvida que pudesse surgir.
Como é natural e se impõe numa prova desta natureza, existiam questões relacionadas com a contagem de prazos para a prática de actos processuais.
A contagem pedida, apesar de relativa a factos ficcionados, considerava o momento presente.
A lei (neste ramo do Direito) prevê a suspensão da maior parte dos prazos durante as férias judiciais, estabelecendo que, as da Páscoa, decorrem entre o Domingo de Ramos e a Segunda-feira de Páscoa.
Estas regras terão sido estudadas durante o Curso de Direito que os licenciados concluíram.

São importantíssimas na actividade de um advogado, já que a perda de um prazo pode comprometer irremediavelmente um caso bem encaminhado. Aliás, qualquer secretária forense domina-as com destreza.
Estas regras foram, por todos os formadores, profusamente explicadas e salientadas nas sessões de formação que a O.A. disponibiliza aos advogados estagiários, e que actualmente são de frequência facultativa.
A primeira pergunta que me foi colocada, logo após o início da prova, a segunda, a terceira, e depois dessas ainda mais duas foi:
- Quando/qual é que é o Domingo de Ramos?

Não, não se trata de nervosismo.
Também não é, propriamente, neste caso, ignorância técnica no sentido estrito do termo.
Trata-se de uma vergonhosa ignorância dos factos da vida e dos elementos estruturantes da nossa vida em sociedade.
É evidente que o Domingo de Ramos é uma festa cristã.
É verdade, também, que Portugal não tem uma religião de Estado e que a sua sociedade tem vindo a tornar-se essencialmente pagã, com uma enorme profusão de crendices de índole supersticiosa e mágica, que vão das bruxas e Professores com anúncios nos jornais gratuitos, aos astrólogos com lugar cativo nas televisões (incluindo na televisão pública, que todos pagamos e que prima por se abster de divulgar a Ciência, a História, a Filosofia, a Música, etc.).
Mas, a Semana Santa e a Páscoa são, também, um tempo de significativa importância na nossa sociedade, marcada pela Civilização e Cultura Cristãs, ao ponto de justificar um feriado nacional e umas férias judiciais e escolares (académicas).
Ao ponto de justificar, também, o fôlego comercial das amêndoas e dos ovos de Páscoa e, para os mais exigentes, o cabritinho assado no forno.
Se não se admite que um adulto minimamente instruído não saiba o que é, p.e.:
- para os Judeus, o Sábado, Moisés, a Sarça Ardente, as Pragas do Egipto, a Páscoa, os 10 mandamentos e a Lei, a Tora, o cativeiro da Babilónia, a destruição do Templo, a Diáspora, etc.;
-para os Muçulmanos, quem foi Maomé e o que é o Alcorão, a Sexta-feira, Meca, a Hégira, o Ramadão e os 5 pilares (Profissão de Fé, 5 orações diárias em direcção a Meca, esmola, jejum no Ramadão e peregrinação a Meca), etc.;
- Quem foi Buda, quais os principais deuses Indus; em suma, os traços principais das mais importantes religiões do mundo, que formam e/ou influenciam as grandes civlizações;

Se já é lastimável que boa parte dos adultos no ocidente desconheçam os mais importantes mitos e deuses greco-romanos;
Muito menos se pode aceitar que, no nosso país, alguém desconheça o que é e o que representa o Domingo de Ramos.
-
Aliás, parece-me francamente perigosa a diluição das nossas referências civilizacionais - do Ocidente que, enquanto tal, queiramos ou não é, também, Cristão -, face ao claro recrudescimento da identidade religiosa e cultural de civilizações que concorrem com a nossa. Não se trata, necessariamente, de advogar o toque a reunir para um choque de civilizações, entre algumas, pujantes e a nossa, pusilânime e envergonhada. Trata-se de conseguir resistir aos seus avanços, no que têm de mais contrário aos nossos valores mais queridos, vd. a crise dos cartoons (e já nem falo da n/ pretensa influência económica e política no mundo). Dialogar e compreender não é claudicar.

Mais, nessas condições,
- Como é que alguém pode compreender 80% da arte? Vão ver o quê no Museu de Arte Antiga, no Prado, no Louvre, etc.;
Como é que alguém pode perceber boa parte da grande literatura?Como é que alguém pode deixar-se invadir pela grande música, da Paixão segundo São Mateus ao Nabuco, passando por qualquer requiem?
Como é que os nossos rapazes, justamente fascinados por Barcelona, interpretam a Sagrada Família, ou os Jerónimos?

Os advogados, melhor, os juristas, com os médicos, eram tidos por elites, cultas.
De entre eles saíam distintos escritores, estudiosos, artistas, tribunos, etc.
Como é que o Direito poderá sair prestigiado se os seus licenciados desconhecem o que é o Domingo de Ramos?

Soube, à saída, de quem (várias pessoas) se esquecesse, também, de contabilizar o dia 25 de Abril como feriado.
Não é de estranhar.
Como se tem vindo a referir neste blogue, para além de incultos, uma parte significativa dos nossos concidadãos não nutrem especial carinho pela Liberdade!

Santa Páscoa!
Imagem: Giotto di Bondone (1267-1337), Cenas da Vida de Cristo: Entrada em Jerusalém, 1304-06,Fresco, 200 x 185 cm, Cappella Scrovegni (Arena Chapel), Pádua

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro dr. Pedro Cruz não se exaspere, quanto ao domingo de Ramos provavelmente os petizes só não sabiam em dia calhava este ano; já quanto ao 25 de Abril, provavelmente só celebram o 28 de Maio.

Anónimo disse...

Olhe um ano depois há exame novamente. Eu vou fazer e vou ter que perguntar. Sabe porquê? Porque enquanto estudo, vim procurar à net. Vim-me informar e lá apareceu o seu blog onde no meio de tanto entulho a perguntar a Deus porque é que nem todos sabem tanto de uma religião como V.Exa., lá se esqueceu de dizer. O seu texto, assim, além de revelar má personalidade e carácter na forma como fala dos seus formandos, é, assim, inútil.

Acalme o seu intelecto porque nem todos gostamos de arroz. Uns sabem mais de Religiões. Outros de Direito. Faça um doutoramento em direito canónico e peça-me um parecer sobre Direito Comercial. Tenha uma Santa vida na paz do Senhor.

Pedro Cruz disse...

Exmo. Senhor Anónimo,
Vossa Excelência não foi meu formando. Tenho tido o privilégio de ter formandos, todos eles, educados, atentos e interessados. Nenhum deles passou pelas m/ sessões de formação acerca desta matéria sem ficar a saber contar o prazo e sem identificar, correctamente, quando começam e quando acabam as férias da Páscoa. Nenhum me perguntou tal coisa no decurso da prova e, evidentemente, o postal não se referia a eles (tal como não se referia aos formandos que frequentaram efectivamente as sessões de formação, já que todos eles, estou certo, aprenderam a contar correctamente os prazos, incluindo, necessariamente, a correcta identificação dos respectivos termos finais e iniciais).
Vossa Excelência não é advogado, nem advogado estagiário. Um advogado não se acoberta no anonimato para cobardemente desabafar o primeiro chorrilho de disparates impertinentes que lhe vem à cabeça. Ainda para mais num país livre, como ainda vai sendo o nosso.
Vossa Excelência, apesar de oferecer lições de Direito Comercial, sem dúvida doutas, nem sequer é licenciado em Direito. Pois se V. Exa. confessa que ao fim de um ano ainda não consegiu identificar qual o primeiro dia das férias judiciais da Páscoa... aliás, dá mostras de não ter percebido nem conseguido interpretar um texto razoavelmente claro.
Pensando bem, V. Exa. revela não ser, sequer,licenciado em coisa alguma. Ainda carece de orientação. Arrange um mestre que o ajude a perceber que na reprodução do quadro e na respectiva legenda, se encontram as respostas que procura: - o que é e o que celebra a festa cristã do Domingo de Ramos.
Ainda assim, sinceramente, desejo-lhe boa sorte para a sua prova. Espero, também, que uma vez concluída, menos nervoso, acabe a lamentar com os S/ botões belo pedaço de prasa que aqui deixou para a posteridade.
O próximo Domingo de Ramos é o dia 5 de Abril. Não se esqueça que o Sábado imediatamente anterior (do mesmo fds) ainda não integra as férias judiciais (o que é uma «esparrela» clássica).
Cumprimentos
Pedro Cruz

Pedro Cruz disse...

«botões belo pedaço de prasa que» deve ler-se - botões o belo pedaço de prosa que -.